Por Adelaide Rezende de Souza


“Birras, Choros e Manhas: como posso tratar esses comportamentos do meu filho?”

Essas são perguntas frequentes que chegam a mim, quando estou conversando individualmente ou em grupo com pais de crianças na faixa etária de 0 a 5 anos.

Estamos falando de formas de construção de limites diante de situações mais tensas correspondentes a uma fase em que a criança começa a se opor a vontade dos adultos que representam autoridade, muitas vezes fazendo birras e choros sem motivo aparente.

As perguntas dos pais envolvem as dificuldades de lidar com a situação e as relações que fazem tentando compreender o que acontece, tais como: - Será que aconteceu algo aqui na creche para que meu filho esteja apresentando resistência para entrar? - Será que eu deveria ter amamentado mais tempo? - Será que estou muito tempo ausente? - O que faço quando minha filha não quer me obedecer?



Ao investigar com os pais mais detalhes das queixas iniciais que provocaram o nosso encontro, após algumas perguntas comecei a perceber que a questão era a mesma: “personalismo”, segundo Henry Wallon é a fase em que a criança inicia a descoberta que ela é uma "persona" e passa a testar os limites e possibilidades de até onde pode ir.

É somente no Estágio do Personalismo, que vai dos três aos cinco anos, que a criança realmente se diferencia do outro, que toma consciência de sua autonomia em relação aos demais. Ela percebe as relações e os papéis diferentes dentro do universo familiar, ao mesmo tempo que se percebe como um elemento fixo, como ser o filho mais velho ou o mais novo, ser filho e irmão, assim por diante.

Uma vez tendo descrito algumas características desse período é importante voltarmos ao título inicial desse encontro “A Construção da Personalidade da Criança”. O que podemos chamar de personalidade? Pois, o senso comum trata esse tema como algo fixo, um conjunto de características prontas, que muitas vezes estão associadas a fatores genéticos e hereditários que pertencem ao indivíduo antes de nascer.

Estou tratando personalidade com o foco em algo que se constrói ao longo da vida de um indivíduo. Assim, a ênfase é para a integração – entre organismo e meio e entre as dimensões: cognitiva, afetiva, e motora na constituição da pessoa. A pessoa é vista como o conjunto funcional resultante da integração de suas dimensões, cujo desenvolvimento se dá na integração de seu aparato orgânico com o meio, predominantemente o social.

É importante pensar a partir dessa ideia que o desenvolvimento humano não é linear, poderá apresentar conflitos e turbulências que refletem a busca por uma constituição singular a partir de uma cultura e de um contexto familiar e escolar especifico.

As formas como as relações sociais irão se estabelecer serão fundamentais para a construção de laços afetivos importantes refletindo maneiras de expressar as emoções. As interações entre adultos e crianças irão refletir a intensidade desses momentos.

...As emoções, são a exteriorização da afetividade(....) Nelas que assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados. (Wallon, 1995, p. 143)

Conduzir os conflitos infantis com calma e paciência, nesse período é essencial e dever do adulto, pois a descoberta de expressões pela criança é um direito dela, pois ainda está buscando sua integração com esse mundo com características culturais próprias e emoções que surgem e provocam comportamentos que ainda tentam compreender como lhe dar.

O carinho e a compreensão são aspectos fundamentais desse momento, pois poderão refletir as formas que a criança irá aprender a reagir a situações semelhantes de desconforto diante dos conflitos interpessoais. Além de marcar características importantes que constituem as relações entre pais e filhos.

É esperado um maior equilíbrio emocional do adulto, pois deverá ser ele o condutor de soluções mais inteligentes e adequadas que não agridam e prejudiquem o relacionamento.

Sei que este é um momento delicado e que nem sempre estamos com a lucidez necessária. É importante compreendermos que no processo de educar os filhos não existe perfeição, mas ao mesmo tempo é importante ressaltar o comprometimento verdadeiro, pois educar é um processo longo, continuo e constante em que a qualidade dos pequenos momentos, refletirá o desejo do adulto de estar nesse lugar.

Finalizo ressaltando que toda criança se constitui como sujeito a partir do olhar de alguém, seja ele, de amor, compreensão e carinho, ou, raiva, ausência e impaciência. Serão olhares diferentes, que constituirão sujeitos diferentes. A responsabilidade de cada um é grande e muitas vezes, se não for bem conduzida poderá produzir marcas irreversíveis.

Cada momento da vida apresenta necessidades específicas, mas a necessidade de amor e compreensão é de todos os seres humanos ao longo de toda a vida.

REFERÊNCIAS
WALLON, Henri, (1975). Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Estampa.

Adelaide Rezende Psicóloga, Mestra em psicologia e especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Infantil e do Adolescente. Atualmente é professora titular do curso de Pedagogia da Universidade Estácio de Sá. Pesquisadora do ILTC desde 2009 (Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência). Psicóloga - Creche Escola Ladybug. Coordenadora do projeto Brinquedoteca: espaço de formação, pesquisa e extensão (UNESA). Coordena Oficinas de Atividades Lúdicas em escolas da rede municipal do RJ (projeto segundo turno cultural - Secretaria de Cultura/ILTC). 3

Projeto "Adeus Fraldinha"!


O DESFRALDE 
Entre dois e três anos de idade, um importante e delicado momento acontece na vida dos pais e seus filhos: a hora do desfralde. A retirada das fraldas é um marco importante no desenvolvimento das crianças, que ficam mais independentes dos adultos (e orgulhosas!) em relação aos cuidados com o próprio corpo. 

Nessa hora, alguns pais ficam paralisados diante da incerteza sobre o momento mais indicado e quais os passos a serem seguidos para acompanhar o filho no desfralde. Já outros, cheios de ansiedade, tratam de adiantar o processo para provar a si mesmos que a criança superou uma nova etapa de amadurecimento. Mas, os pais devem lembrar que é preciso ter paciência e contar com uma forte aliada para o sucesso do desfralde: a escola. 
DESFRALDE NA ESCOLA 
Na escola essa etapa também gera ansiedade e stress. As educadoras agora tem mais uma tarefa no processo de ajudar as crianças na construção da sua autonomia e independência. É uma fase difícil, pois em geral na mesma turma temos 03 ou 04 crianças desfraldando ao mesmo tempo.
Observando a ansiedade de pais e professoras ao passar por esse momento tão importante e delicado, reunimos nossa equipe e decidimos criar um projeto de apoio com orientações e procedimentos para facilitar este processo. 
OBJETIVOS DO PROJETO APOIO AO DESFRALDE 
· Orientar pais e educadoras sobre o processo de desfralde,
· Ajudar a tornar o desfralde um momento mais lúdico e prazeroso para a criança
· Organizar uma rotina de procedimentos a ser adotada pela equipe para facilitar o processo e a comunicação.
· Envolver pais, educadoras e crianças no processo de desfralde.

 COMO FOI PROJETO APOIO AO DESFRALDE 
Iniciamos o projeto promovendo um ritual de passagem” para auxiliar a retirada das fraldas dos pequenos. Começamos ouvindo uma história sobre o desfralde uma divertida historinha sobre o assunto (“O que tem dentro da sua fralda?”, de Guido Van Genechten, editora Brinque Book), logo depois combinamos como seria o ”Adeus às fraldas”, fizemos cartazes e festejamos a despedida num dia especial: o marco da passagem da fralda para a calcinha e/ou cueca. As crianças, cheias de orgulho, deram adeus à fralda diante dos coleguinhas. O projeto também aconteceu nas aulas de inglês Bye Bye Diapers”.


Para dar continuidade ao processo, incluímos alguns títulos de livros no nosso projeto de leitura (Leva e Traz) e cada semana enviamos para casa de uma criança um livro ou DVD para que a família participe de atividades lúdicas sobre o assunto e possa reforçar o trabalho feito na escola.



DICAS PARA O DESFRALDE 
Aprender a usar o banheiro é um processo composto de diversas etapas, a criança pode levar alguns dias ou alguns meses para aprender. Se você souber esperar o momento certo, o processo será muito mais tranquilo para ambos. É uma conquista dela, não sua.
Para que a criança aprenda a usar o banheiro, é preciso que você a ensine. Diga a ela quais são as etapas: avisar que precisa ir ao banheiro, despir-se, limpar-se, dar descarga e lavar as mãos. Cada uma dessas etapas leva algum tempo. Por isso, lembre-se de reforçar o sucesso da criança com elogios ao final de cada etapa. A atitude da criança e o domínio da etapa anterior dirão quando ela estará pronta para aprender a próxima etapa. A meta final é importante, mas as pequenas conquistas também são. Lembre-se: o sucesso inicial depende da criança entender o uso do banheiro, não de aprender tudo de uma só vez. Fale claramente o que espera dela.
A sintonia entre pais e escola é fundamental e, para isso, é importante que pais e educadoras observem alguns detalhes:
• A criança verbaliza que fez ou vai fazer xixi ou cocô; 
• Caminha com autonomia e equilíbrio; 
• Sobe e desce escadas fazendo uso alternado dos pés; 
• Fica com a fralda seca por intervalos cada vez maiores; 
• Mostra interesse e desejo em usar o vaso sanitário; 
• Incomoda-se com a fralda cheia.
É importante combinar com a creche o momento da retirada para começar junto, ter bastante paciência com as escapulidas e elogiar as conquistas! Bom desfralde!